Thanks for making me shake, it keeps me on point

(você provavelmente está se perguntando o que tem a ver essa imagem das unhas do meu pé pintadas de preto, inclusive descascando, com o resto do post. Na verdade não tem nada a ver, mas eu precisava de uma imagem e você mesma pode descobrir a ligação, hahaha. Os pés encostados no chão representando zona de conforto, o arco-íris aparecendo mostrando a felicidade de uma nova perspectiva de vida, ou sei lá o que. Solta a sua imaginação, fera.)*

 Eu estava pensando sobre a vida, sobre o real significado dela e o que ela está significando pra mim. Percebi que entre o que ela deveria significar e o que ela realmente está significando existe uma distância gigantesca.

 Tudo começou com um vídeo que achei por acaso, o vocalista de Beirut (banda que amo, depois faço um post), fazendo um cover da música Leãozinho de Caetano Veloso. Eu adorei o cover, achei sensacional a forma que ele cantou, mesmo tendo errado algumas partes, mas sensacional não foi o cover em si (apesar de ter sido também), sensacional foi o que ele significou pra mim. Antes de mais nada vejam o vídeo, para entender:

 O que mais me fez pensar foram as poucas palavras que ele disse antes de começar a cantar, palavras essas que, inclusive, me fizeram dar título a esse post: "thanks for making me shake, it keeps me on point." Traduzindo ao pé da letra seria algo como: "obrigada por me fazer tremer, me mantém no ponto (ou onde eu deveria estar)". Pode parecer uma frase simples, ela poderia ter passado despercebida para muitas pessoas, mas não para mim que estava refletindo sobre o real significado da vida e que tinha justamente entendido que o significado dela e o significado que ela estava tendo para mim estavam há milhas de distância.

 Eu vou explicar o que o Beirut fez; ele cantou uma música que é um clássico nacional, não sei ao certo, mas tenho a impressão de que português não é uma língua que ele fala fluentemente, então ele assumiu um risco ao pegar uma música tão conhecida, que é um símbolo nacional, e cantar. Ele teve a audácia de fazer isso, mudou um pouco aqui e um pouco ali o arranjo, tentou pronunciar as palavras do melhor jeito possível, errou em alguns momentos, acertou em outros e o resultado foi esse vídeo que me fez pensar sobre a vida. O cover ficou perfeito, na minha singela opinião, não porque foi impecável no sentido musical, mas sim porque ele é real, porque ele é uma metáfora para a vida, porque Beirut chegou na nossa cara e teve a coragem de dizer: isso é viver, você está fazendo do jeito certo? 

 Ele poderia ter cantado milhares de outras músicas nesse dia, poderia ter utilizado seu vasto repertório, ter feito algum outro cover de uma música em inglês, mas ele escolheu se arriscar, ele escolheu tomar riscos, sair da zona de conforto, mostrar que quando está tudo muito confortável e cômodo tem alguma coisa de errada, mostrar que a vida acontece naqueles momentos em que estamos tremendo, com medo, na expectativa, nos arriscando.

 Então volto com a frase: "thanks for making me shake, it keeps me on point", onde ele claramente nos diz: ei, você que está aí com a bunda no sofá, confortável, com o suficiente ao seu redor, assistindo a vida caminhar de maneira linear, já parou pra pensar no que é a vida? Já parou para pensar que estar confortável é bom, mas estar confortável o tempo TODO está errado? Já parou para pensar que a vida é feita dos momentos de alegria, dos pequenos momentos do cotidiano, mas principalmente pelas vezes que você sente suas mãos tremendo? Porque você está se arriscando, porque você teve a audácia de tirar a bunda da cadeira e tentar fazer algo novo, que te dá medo, mas que te faz sentir. Sentir, acima de tudo, viva de novo. 

 Você já parou para pensar quantos sonhos enterrou? Quantas vezes teve uma ideia e guardou na gaveta porque era muito irreal, porque tinha que te fazer se mexer para dar certo, porque era fora da realidade? Quantas vezes você desistiu e preferiu ficar confortavelmente enrolada na sua cama do que enfrentar a vida com as mãos tremendo, mas absolutamente viva? Eu já fiz isso muitas vezes, tudo isso, e, olhando pra trás, vejo que o que me fez evoluir, seguir em frente e ter momentos bons (acompanhado de ruins também, claro, mas o que seria a vida sem isso?) foi justamente quando eu me vi tremendo, às vezes sozinha, às vezes acompanhada, às vezes na claridade, às vezes na escuridão, mas sempre tremendo. O que veio depois nem sempre foi bom, o que veio depois nem sempre foi um final hollywoodiano, mas foi a vida em sua mais pura essência. 

 Então hoje eu te convido, e me convido, a se permitir tremer, porque só assim a vida é verdadeiramente vivida. 

Thanks for making me shake, it keeps me on point.

Obrigada Beirut, por me ensinar a viver novamente quando eu achei que estava tudo certo, mas na verdade não estava. 

E obrigada vida, por ter colocado esse vídeo diretamente de 2011 na minha vida em 2016 para me dar uma chacoalhada, o que seria de mim sem elas.

*Essa foi a maior legenda que eu já fiz para uma foto, perdoem o excesso e não desistam de mim