Resenha - Eu Estive Aqui

Livro: Eu Estive Aqui
Autora: Gayle Forman
Páginas: 240
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580414233

Quando sua melhor amiga, Meg, toma um frasco de veneno sozinha num quarto de motel, Cody fica chocada e arrasada. Ela e Meg compartilhavam tudo... Como podia não ter previsto aquilo, como não percebera nenhum sinal? A pedido dos pais de Meg, Cody viaja a Tacoma, onde a amiga fazia faculdade, para reunir seus pertences. Lá, acaba descobrindo muitas coisas que Meg não havia lhe contado. Conhece seus colegas de quarto, o tipo de pessoa com quem Cody nunca teria esbarrado em sua cidadezinha no fim do mundo. E conhece Ben McCallister, o guitarrista zombeteiro que se envolveu com Meg e tem os próprios segredos. Porém, sua maior descoberta ocorre quando recebe dos pais de Meg o notebook da melhor amiga. Vasculhando o computador, Cody dá de cara com um arquivo criptografado, impossível de abrir. Até que um colega nerd consegue desbloqueá-lo... e de repente tudo o que ela pensou que sabia sobre a morte de Meg é posto em dúvida. 

  A Gayle Forman conseguiu ir me conquistando aos poucos. Primeiro eu li Se eu ficar, dei cinco estrelas, achei uma leitura ótima, mas nada que mexesse muito comigo. Depois veio Apenas um Dia, que eu chorei, me emocionei, me identifiquei, fiquei louca com o final, favoritei e até hoje recomendo a obra. Aí ela escreveu Eu estive aqui e terminou de ocupar o posto de uma das minhas autoras favoritas, além de ter me arrancado lágrimas e ter me feito devorar a obra completa em apenas um dia. Caramba, essa mulher merece meus mais sinceros parabéns, ela é simplesmente destruidora.

 Existe algo de muito cru e real nas histórias dessa autora, ela escreve sobre gente comum, pessoas que geralmente não protagonizariam um livro, então ela nos mostra que essas pessoas "comuns" são donas das histórias mais emocionantes, mais interessantes e que mais mexem com a gente. Talvez por vermos um pouco de nós mesmos nesses personagens tão simples e ao mesmo tempo tão complexos.

 Essas pessoas que nunca olharíamos duas vezes na rua e que, sob uma primeira análise, parecem simples, além não demonstrarem ter absolutamente nada de interessante para nos revelar são exploradas pela Gayle até o fundo de suas almas. A autora conta uma história que poderia acontecer comigo ou com você e é justamente isso que torna suas obras sensacionais: elas são críveis. Eu acredito de fato nelas, em sua veracidade, por mais que sejam fictícias. E eu acredito tanto que, dentro de minha cabeça, elas se tornam reais. 

 Com Eu Estive Aqui não foi diferente, ela nos jogou na realidade crua e dura da Cody. Ela nos levou até os confins de seu mundo destruído e sem esperanças, mostrando todos os acontecimentos da vida de uma menina que é considerada "lixo branco" (é exatamente esse termo que ela usa). Uma garota sem futuro, sem perspectivas, que vive uma vida sem graça em uma cidade mais ou menos. Aí você pensa: "o que tem de interessante nisso?" Absolutamente tudo. Desde a forma que uma pessoa tão comum pensa, até as razões e circunstâncias que a levaram até ali, tudo isso com o suicídio de sua melhor amiga em segundo plano.

 Sim, esse é o segundo plano. Apesar da sinopse dar a entender que esse é o tema principal do livro, existe muito mais. E o suicídio é só o estopim para a jornada de busca por si mesma que a Cody realiza. Esse é outro ponto que amo os livros da Gayle, o foco principal é sempre a protagonista e sua jornada de autoconhecimento.

 A Cody amadurece, cresce e se fortalece com os socos da vida, além de descobrir a si mesma e as coisas ao redor. Essa é a essência da vida, ponto. Essa constante metamorfose que todos nós sofremos e que são derivadas, em sua maioria, pelos socos da vida. Pelas vezes que caímos e decidimos que ficar no chão não vale a pena, então nossa única alternativa é levantar. Aí já não nos levantamos a mesma, e a Cody faz isso muitas vezes. Ela amadurece muito, mas de uma forma realista e gradual, não é algo repentino e que faz o leitor pensar: "ué, mas como ela mudou tão rápido?". Inclusive, essa mudança toda pode até passar batida pelo olhar de um leitor mais desatento.

 Não vou negar, o suicídio tem muita importância no contexto geral, tem também bastante foco ao longo da trama. É um assunto forte, que já presenciei sendo abordado em outros livros, mas nesse me pareceu ainda mais real do que em qualquer outra história. É  um assunto que possui divergência de opiniões, mas é também um tema que precisa ser abordado. Às vezes não nos damos conta, mas são muitas as pessoas que sofrem desse mal, que já pensaram em fazer algo do tipo e livros como esse nos ajudam no sentido de conscientizar. Temos várias mensagens implícitas ao longo da obra sobre o assunto e, mais para o fim, um epílogo mais direto que, com certeza, nos faz refletir.

 O relacionamento de Cody com Tricia, sua mãe, é complexo e fascinante de um jeito que vocês só vão entender quando lerem o livro. É aí que conhecemos essa personagem tão interessante e que é uma incógnita para nós, leitores. Os outros personagens secundários também são donos de personalidades marcantes e curiosas, o que me leva a crer que a Gayle é expert em criar personalidades memoráveis. 

 O romance é incrível, a autora tem o dom de fazer casais que funcionam tão bem que, para os leitores, é impossível não torcer para que eles deem certo, é impossível não sentir aquele frio na barriga com a expectativa dos dois ficarem juntos mesmo. Eles possuem química, mas mais que isso: um envolvimento emocional profundo. Eu, particularmente, não acho fácil criar um romance de qualidade tamanha a ponto de fazer o leitor se envolver psicologicamente com o casal. Então aplaudo de pé as autoras e autores que conseguem fazer isso. Aplaudo a Gayle de pé por isso e tantos outros motivos que fazem dela uma escritora sensacional. Uma de minhas favoritas (agora que me dei conta desse fato, não vou parar de falar, vocês que aguentem!). 

 A edição da Arqueiro está ótima, como sempre. A capa é linda, tem vários elementos presentes na trama, mas também possui imagens que até agora eu estou tentando entender o contexto na história. Encontrei um erro de revisão, mas foi algo bobo, nada alarmante. 

 Em suma, Eu Estive Aqui serviu para consagrar a autora entre as minhas favoritas (terceira vez que eu falo isso só nessa resenha). É um desses livros incríveis que celebram a vida em sua forma mais real: contanto a história de gente comum, de gente como a gente. Aliás, não existe nada mais fascinante que isso. Eu juro que poderia citar mil motivos para você ler o livro (e acreditem, eu teria esses mil motivos), mas vou me limitar a indicar a obra e pedir que vocês confiem em minha opinião, eu estou sendo completamente sincera quando digo que essa obra merece um lugar na estante de vocês. Tomaram que minha opinião seja levada em conta. 

QUOTES:

"É assim que funciona com as mentiras. A primeira é difícil, a segunda é mais fácil até que saem da sua boca com mais facilidade do que as verdades. Talvez porque sejam mais fáceis que elas." 

"Às vezes uma dor é tolerável até ser tocada, até cutucarmos a ferida. O mesmo se aplica ao sofrimento desta vida; ele é trazido a tona pelo tumulto da existência." 

"Você tinha um monte de pedras nas mãos, então resolveu limpá-las, deixá-las bonitas e fez um colar. Meg ganhou um colar de joias e se enforcou com ele." 

"Quando mais perto você chega da verdade, mais fácil é mentir." 

"O que estou pedindo para todos vocês fazerem não é fácil. Deixar nossas feridas cicatrizarem. Perdoar. E, às vezes, o mais difícil de tudo: perdoar a nós mesmos."

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