A sentimentalidade e poesia de "Pílulas Azuis"

 Olá, pessoal. Hoje eu vim falar de uma HQ da Editora Nemo que me deixou completamente apaixonada e encantada. Como retribuição para as maravilhosas sensações que o livro me deu, eu resolvi fazer um post especial indicando essa história comovente para o máximo de pessoas que eu puder. Então clique em LEIA MAIS para ler as maravilhas que escrevi sobre o livro.

SINOPSE: Nesta narrativa gráfica pessoal e de rara pureza, por meio de um roteiro simples e de temas universais (o amor, a morte), Frederik Peeters conta sobre seu encontro e sua história com Cati, envolvendo o vírus ignóbil que entra em cena e muda tudo, e todas as emoções contraditórias que ele tem de aprender a gerenciar: amor, raiva, compaixão. Pílulas azuis nos permite acompanhar, sem nenhum vestígio de sentimentalismo, através de um prisma raramente (senão nunca) abordado, o cotidiano de uma relação cingida pelo HIV, sem deixar de lançar algumas verdades duras e surpreendentes sobre o assunto. Apesar da seriedade do tema, Pílulas azuis é uma obra cheia de leveza e humor. Não é à toa que é considerada por muitos a obra-prima de Frederik Peeters. Uma das mais belas histórias de amor já publicadas.

 Basicamente eu recebi a oportunidade de solicitar um livro do catálogo da Editora Nemo e, por Pílulas Azuis tratar de AIDS (que é um assunto que sempre desperta meu interesse, além de ser muito pouco explorado nas ficções em geral, apesar desse não ser bem uma ficção) e por já ter visto uma resenha animada sobre a história anteriormente, eu acabei escolhendo a obra. Fiz a escolha que alegrou meu domingo pré-feriado e me fez favoritar um livro. 

 Primeiro que a forma que o Frederik utiliza para contar uma história é genial, ele é tudo, menos previsível e convencional. Ele não segue uma linha cronológica de acontecimentos, ele vai e volta no tempo de uma forma que facilmente poderia ser confusa, mas que em suas mãos se torna perfeitamente compreensível. 

"As cidades engedram constantemente desconhecidos numa respiração lenta e vital. E, de tempos em tempos, entre os desconhecidos, algumas pessoas específicas. Essa pequena categoria de pessoas que a gente já acha familiares na primeira vez que encontra... Com quem a gente não se espanta de cruzar por acaso em uma esquina e que a gente se surpreende pensando enquanto está ouvindo música." - pág 14

 Segundo que ele possui uma sentimentalidade e poesia profundas ao extremo. Já vi muitos autores tentarem, de maneira pouco natural, fazer algo assim ou simular tamanho sentimento. Alguns conseguem, mas no caso do Frederik tudo isso é muito espontâneo, ele possui um dom fora do comum de nos despertar emoções e atribuir poesia até nas coisas mais mínimas do dia-a-dia. Ele faz comparações, apologias e, às vezes, absolutamente nada e, dessa forma, consegue  criar uma complexidade de sentimentos e significados. Senti que ao ler o livro estava compartilhando e fazendo parte de algo lindo e imensurável. O que não deixa de ser verdade.

 Juntamente com seu traço que é, por vezes, até abstrato, o autor consegue contar sua história e dar foco para os pequenos acasos, a peculiaridade das coisas cotidianas e a poesia presente nos pequenos momentos. No fim das contas eu fiquei maravilhada pela profundidade do livro e pela forma que o autor possui de enxergar a vida.

 A AIDS está presente, obviamente, mas eu senti que o grande protagonista de todo o livro foi o amor e como ele venceu todas as barreiras e encontrou refúgio em um casal improvável de diversas maneiras, mas que deu mais certo do que algumas pessoas que parecem estar destinadas para ficarem juntas. 

 O romance é simplesmente incrível, nu, realista, verdadeiro e muito pouco convencional. Algo que estava fadado a dar errado, mas que deu tão certo que me arrancou um sorriso, talvez dois, até mesmo agora, enquanto escrevo essa resenha. 

"Apesar de tudo, penso muito nisso... Que todo mundo deveria ter direito a uma segunda chance." - pág 206

 Desde o início eu já havia desconfiado, mas depois acabei descobrindo que a HQ é uma junção de fatos verídicos da vida do autor e isso me encantou mais ainda, ver que a sentimentalidade e beleza presentes na obra não eram somente ficção, mas realidade. Uma realidade tão tangível quando as páginas do livro. Isso me emocionou, me fez relembrar porque eu acredito no amor, mesmo em um mundo tão caótico e desordenado. E sim, o livro me relembrou o que é um amor sensível, real, que foge dos clichês e das banalidades, um amor que, para ser tão convincente e pungente precisava mesmo ser real, literalmente. 

 E, agora falando da AIDS, eu preciso dizer que ela tinha tudo para ser a vilã do livro, mas acaba se tornando a mocinha, a responsável por existir um romance tão verdadeiro e poético, que mistura toques de dura realidade com aspectos leves da fantasia amorosa mais idealizada possível. Eu aprendi mais sobre a doença do que em quatro aulas de biologia, mais do que a parte científica, eu aprendi a parte humana, real e cotidiana da doença que, por mais que seja cruel, também é cercada de preconceitos e ideias mistificadas transmitidas pela grande massa.

"Talvez ela seja seu pior azar e sua melhor sorte..." - pág 174

 A edição da Nemo está incrível, no fim das contas eu fiquei com vontade de ler todo o catálogo deles porque estou me apaixonando por HQ's aos poucos e esse livro foi o responsável por firmar meu compromisso com todo o resto, uma vez que se tornou um de meus livros favoritos (a primeira HQ a entrar na lista).  Visualmente está tudo lindo, atrativo e essa capa é tão linda e inusitada que me dá pequenas nuances de felicidade toda vez que a observo. 

 O traço do Frederik é, por vezes abstrato e, por vezes, realista ao extremo. Ele sabe dosar bem todos os componentes necessários para tornar um livro único, sem falar que a obra nos aproxima intimamente do autor, que se expõe de tal forma ao contar sua própria história e ter pulso o suficiente para assumir tal ato. Eu vou repetir isso pela milésima vez nessa resenha, mas é necessário salientar que estou encantada. E é assim que vou terminar essa resenha, completamente encantada e quase implorando de joelhos para que vocês comprem esse livro, porque ele é incrível a ponto de me fazer perder a dignidade. 

Livro: Pílulas Azuis

Autor: Frederik Peeters

Páginas: 208

Editora: Nemo

ISBN: 9788582861592

*ganhador do Polish Jury Prize

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