Resenha - Quando o Vento Sumiu

Livro: Quando o Vento Sumiu

Autora: Graciela Mayrink

Páginas: 264

Editora: L&PM Editores

ISBN: 9788525432742

Suzan, Mateus e Renato parecem três jovens como outros quaisquer do Rio de Janeiro. Suzan estuda Turismo. Renato e Mateus, Engenharia Civil. Os três são amigos desde o colégio e, apesar de muito diferentes, são inseparáveis. Mas, entre aulas, festas, momentos em família e idas à praia, cada um deles enfrenta seus problemas. Desde que o pai foi pego dando um golpe, Mateus vive só com a mãe, marcado por esse acontecimento. Renato é um garoto rico que resiste às pressões do pai para surfar menos e se interessar mais pela construtora da família. Suzan é apaixonada por Renato e sofre por ser considerada apenas uma amiga – e pela pressão da mãe para que se envolva com ele. No correr dos dias, a amizade dos três se transforma sutilmente. Suzan deve se declarar ao amigo, ou tentar ser feliz de outro modo? Mateus terá realmente só a amizade para lhe oferecer?Renato deve se render à pressão paterna e se aplicar mais aos estudos? E até que ponto a relação dos três suportará o desgaste do tempo? Embora tenham toda a vida pela frente, logo descobrirão uma dura lição: algumas escolhas têm consequências duradouras e alteram o curso de toda uma existência. Muitas coisas saem diferente do desejado. O difícil é prever o resultado de nossas opções e conviver com elas no futuro. E se você pudesse voltar atrás e escolher outro final para a sua história? Que escolha você faria diferente?

 Quando recebi a proposta da editora de receber um exemplar do livro antes mesmo dele ser lançado fiquei honrada e, obviamente, aceitei, afinal já tive outras experiências positivas com essa mesma autora e sempre que sai uma história nova dela, surge uma pontinha de curiosidade em mim. 

 A história se passa em um ambiente pouco explorado pelos livros contemporâneos; a faculdade. Isso, de cara, me ganhou. Foge um pouco do clichê óbvio que é o ensino médio, os personagens não são nem adolescentes imaturos e nem adultos com a vida estabilizada, representa um momento de transição da vida que poucas vezes é relatado em um livro. 

 A atmosfera leve da obra me ganhou de cara, livros nacionais que se passam no Brasil são um amor gente, surge aquela identificação imediata com os costumes, lugares e forma de viver que só os brasileiros sabem descrever. É simplesmente incrível. Com esse livro não foi diferente, ao começar a ler as descrições de personagens verdadeiramente nacionais (que poderíamos de fato encontrar em qualquer esquina), sem os estereótipos clichês que rodeiam o gênero e paisagens do meu amado Brasil eu já sabia: o livro tinha me ganhado.

 Apesar de toda essa atmosfera leve, descontraída e super facil de se identificar, a autora também aborda temas mais polêmicos.

 A protagonista é a Suzan, uma garota comum, de uma família que não é exatamente rica, mas possui boas condições financeiras. O fato dela ser tão comum me agradou, nos causa aquela sensação de que a personagem é verossímel. Ela é bonita, mas não aquela beleza absurda de tirar o fôlego que tanto me irrita. Suzan vive situações comuns para a idade, que não possuem desfechos previsíveis ou extremamente romantizados, outro ponto para a autora. Também é abordada um pouco de uma relação mais complicada entre mãe e filha, algo extremamente pertinente e que se encaixou muito bem no contexto geral.

 A autora não foca em poucos personagens, ela deixa que adentremos na vida de várias pessoas, dando espaço para seus conflitos e desenvolvendo histórias bastante realistas e inusitadas, que fogem bastante do clichê. Outra vez, ponto para ela. Não poderia citar personagens que foram especiais para mim, afinal gostei imensamente de todos, mesmo com seus defeitos e qualidades. As circunstâncias criadas pela autora foram simplesmente sensacionais, aplaudo de pé o fato dela ter optado por abordar um assunto que pouco vejo em livros voltados para esse público.

 Como já disse, o diferencial do livro é o fato dele ser bem realista, seguir o ritmo calmo e tranquilo da vida, com situações que poderiam acontecer a todos nós e que nos causam um reconhecimento e identificação imediatos por terem situações e personagens que simbolizam o que temos de mais nacional sem cair nos estereótipos mais batidos. É um desses livros que eu gostaria de ler a tarde toda, uma dessas obras que retratam com veracidade um pouco da vida do brasileiro, de forma bastante singela e fiel com a realidade.

 O romance poderia ser considerado clichê, mas muito me agradou, a autora poderia ter seguido caminhos previsíveis com ele (assim como em outra obra que li dela), mas optou por fazer uma coisa mais suave, serena e verdadeira.

 A única coisa que me frustrou foi o final. Não por ele ter sido da maneira que foi, afinal eu admiro a coragem da autora por ter criado algo que facilmente aconteceria na realidade. Só não gostei dele ter sido tão corrido, com poucas informações e coisas subentendidas, sem nenhuma explicação mais clara. Claro que gostei de um recurso que a autora utilizou, não vou falar aqui po achar que estragaria parte da surpresa, entretanto achei o final corrido e evasivo. Foi meu único problema em todo o livro. Uma pena.

 Eu não recebi a edição finalizada, por isso não posso comentar sobre ela com mais detalhes. A história que recebi veio com um aviso prévio de que não estava revisada, entretanto não encontrei grandes erros, o que me faz crer que a edição final vai sair impecável. A capa é linda, essa bicicleta tem grande significado para o contexto geral do livro e o trabalho final ficou muito harmonioso. Sem dúvidas recebeu minha aprovação.

 A escrita da Graciela é fluída e muito gostosa de ser lida. Acompanho toda a carreira dela e tenho todos os seus livros publicados (apesar de só ter lido dois). Quando soube que ela iria publicar uma obra pela L&PM fiquei super feliz e espero verdeiramente que dê tudo certo com o lançamento e que eu ainda tenha a oportunidade de ler muitas histórias da mesma. Obviamente ela não é uma autora perfeita, existe sempre algo não tão bom para ser citado a respeito de seus livros, mas suas obras de maneira geral são muito boas, sem falar que sua escrita anda evoluindo perceptivelmente. Creio que a próxima obra que ler dela vai estar impecável. Sinceramente, a Graciela é uma de minhas autoras nacionais favoritas, a considero talentosíssima e torço muito para seu sucesso. Ela insere elementos verdadeiramente nacionais, sem tentar "americanizar" as coisas, coisa que realmente me irrita.

 Em suma, recomendo muito Quando o Vento Sumiu como uma obra singela, extremamente verdadeira e que foge dos clichês mais recorrentes, apesar de ter tido um final um pouco corrido, considero esse um livro incrivelmente bom, que vai te fazer ter uma identificação instântanea. Confesso ter terminado a obra com um sorriso de satisfação por ter lido algo tão genuíno e que traduz uma realidade inegavelmente nacional. Aquele tipo de identificação só acontece com autores conterrâneos, sabem qual é? A verdade é que a obra me trouxe sentimentos muito bons e me fez grudar em suas páginas. Queria que vocês sentissem isso também.

OBS: escutem Kite do U2, é a cara desse livro.

QUOTES:

"Pensei que o tempo curaria as feridas, diminuiria a dor e amorteceria o sentimentos, mas isso não aconteceu." 

"Ultimamente ando com muita preguiça da vida, sabe. Aquela sensação de que não importa o que eu faça, vai tudo continuar assim, sem nada interessante acontecendo." 

"Um mês é muito tempo. Um mês é pouco tempo. Tudo depende da perspectiva."

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