Resenha - Lis no peito

Livro: Lis no peito

Autor: Jorge Miguel Marinho

Páginas: 180

Editora: Biruta

ISBN: 9788588159433

Este livro fala de amor entre jovens, da felicidade de adiar um primeiro beijo tendo a certeza de que ele vai acontecer, de delicadezas e violências que são tão presentes no mundo de quem quer se descobrir. Há um crime, imperdoável talvez, e o possível criminoso pede para um escritor amigo escrever a sua história porque ele mesmo não consegue entender se é culpado ou não. Precisa de outros olhos para ser condenado ou absolvido, sobre-tudo para continuar a viver. É aí que o leitor entra e, mesmo em silêncio, se vê responsável e seduzido para dar seu veredicto final. Clarice Lispector também está presente nessa trama...

 Solicitei esse livro por ter lido a sinopse e achado a premissa curiosa. Logo no começo achei a leitura confusa, depois imergi nessa atmosfera sentimentalista e sensível da história.

 Preciso dizer que esse não é um livro como qualquer outro, ele não possui narrativa linear e uma história que se possa considerar tradicional. A obra em si é mais um tributo à Clarice Lispector do que qualquer outra coisa, a autora está presente em cada centímetro do livro, até nas palavras utilizadas para construir a narrativa. 

 A trama é mais poética do que ficcional, o livro narra uma história singela que se desenrola sem muitos acontecimentos marcantes. Mesmo assim a leitura prende, até certo ponto, mais especificamente no meio, quando acho que o autor se perdeu em sua própria história. A partir desse momento achei as coisas muito banais, por mais que o tom de lirismo fosse forte, queria ver um pouco mais de foco nos acontecimentos em si e fatos mais marcantes. 

  A obra tem um conceito de certa forma complexo para um livro juvenil, o autor quis misturar personagens e acontecimentos de modo bastante peculiar e creio que o resultado final foi bom e ruim ao mesmo tempo. A narrativa é permeada de metáforas e figuras de linguagens, como disse, é um livro bastante poético, que divaga muito e possui um apelo sentimental muito grande.

 Os personagens são interessantes, apesar de não terem muito destaque, uma vez que creio que a maior protagonista é a Clarice Lispector que, como disse, é a parte central do livro, que conecta tudo e acho que esse foi o erro do autor, tentar colocar a autora em cada fragmento da obra fez com que as coisas se perdessem um pouco. 

 A edição da editora está bem artística, como sempre. Eles sempre possuem um projeto gráfico bem interessante, que se conecta com a história de forma precisa, consegue complementar a parte ficcional e se torna um espetáculo para os olhos. Entretanto, dessa vez, confesso que não gostei da capa. Entendi bem sua finalidade e significado, mas a achei pouco atrativa e um pouco mal executada. Por dentro, entretanto, não tenho ressalvas. Com relação a revisão em si, percebi um pouco de relapso com as vírgulas em alguns momentos, só.

 Em suma, Lis no Peito é um livro que possui lirismo exacerbado e elementos que são difíceis de serem encontrados em outras obras, mas preciso confessar que me decepcionei um pouco com a trama e achei que a falta de destaque e aprofundamento para os acontecimentos renderam uma nota mediana para a história. Creio que essa seria uma boa indicação para os amantes de Clarice Lispector, os demais não compreenderiam a obra em toda a sua extensão. Talvez por isso eu não a tenha apreciado com tanta intensidade.

QUOTES:

"Escrever para ela acontecia nas situações mais inesperadas e não escrever era como morrer por um instante, interrompendo o fluxo mais que necessário da respiração." 

"Era frágil e perigoso viver, mas valia a pena existir." 

"Por mais que necessitasse de uma atenção dos outros, se dava ao luxo de existir só por dentro." 

"Viver é quase tudo que dorme e acorda nas vielas da alma e a gente momentaneamente se basta por sentir o mundo alojado no seu eu mais profundo." 

"Acontece que Marco César era quase feliz e ser quase era e sempre tinha sido a sua tragédia maior."

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