Resenha - Depois do que aconteceu

Livro: Depois do que aconteceu

Autora: Juliana Parrini

Páginas: 344

Editora: Suma de Letras

ISBN: 9788581053004

Isabel passou o último ano fugindo. Depois do que aconteceu, a jovem não acredita que conseguirá ser feliz novamente. O que ela não esperava era que o destino colocaria Daniel Clark em seu caminho. A atração entre os dois é imediata e irreversível: ao voltar para casa, a carioca Isabel não será capaz de esquecer os encantadores olhos azuis daquele cara que conheceu por acaso em plena avenida Paulista. A partir desse dia, a tristeza de Isabel perde espaço para uma paixão que mudará a sua vida. Ficar presa ao passado vale mesmo a pena? Ou é preciso seguir em frente e dar uma segunda chance ao amor?

 Quando vi esse lançamento entre as opções de livros da Suma, três coisas chamaram minha atenção:

1. Essa capa magnífica 
2. A sinopse super interessante
3. O fato de se tratar de uma autora autopublicada que fez muito sucesso

 A verdade é que as obras nacionais andam ganhando cada vez mais um lugar cativo no meu coração. Eu torço muito pela literatura brasileira e acredito no potencial dos autores daqui, então ver que uma autora autopublicada fez um sucesso considerável, assinou um contrato com uma editora e republicou seu livro enche meus olhos e faz meu radar de interesse despertar quase instantaneamente. A parte boa é que eu não me decepcionei, na verdade me surpreendi.

 Primeiro eu vou falar de uma coisa que sempre costumo citar: livros com cheiro, gosto e sabor nacional. Porque não adianta ser um escritor daqui e escrever de um jeito americanizado, isso costuma me desagradar, eu acho que a literatura brasileira precisa tomar forma e jeito próprios, precisa valorizar suas paisagens e cidades belíssimas. É isso que a Juliana faz, ela cria uma história que se passa no Rio de Janeiro e faz isso com maestria, valorizando a cidade em si (começando por essa capa maravilhosa) e delineando uma história que nos faz ter aquele gostinho de lar, aquela identificação característica que se deriva de coisas que reconhecemos como nossas e normais do nosso cotidiano. Então, voltando para a ambientação em si, eu adorei o que a autora fez, ela valorizou belamente o nosso país, deixando a cidade em si ter espaço no livro.

 Se você vai escrever uma história que se passa no Brasil você não pode fazê-la baseada no que vemos de costume em livros americanos. Basicamente a Juliana fez o contrário disso, o que sempre me faz bater palmas para uma autora. As saídas para barzinhos no final da noite, as corridas na praia... Todas essas coisas que nos fazem ter imediata identificação e caracterizam coisas do cotidiano de um brasileiro. Não digo que um autor nacional não pode escrever um livro que se passa fora do nosso país, eu digo que se ele opta por escrever uma história que se passa aqui ele precisa fazer jus a essa escolha.

 A trama em si é muito interessante e nos prende desde o começo, acho que todos já sofreram em algum momento por uma questão amorosa, então a identificação é imediata. E a autora não permanece somente nos clichês, ela até me surpreendeu inserindo alguns temas mais sérios e pouco abordados em romances de uma maneira geral. Todos os acontecimentos são muito interessantes, existem reviravoltas que me surpreenderam verdadeiramente (nem em um milhão de anos eu poderia esperar certas coisas que li) e o ritmo de leitura é muito gostoso, em nenhum momento as coisas são monótonas ou desinteressantes. 

 Obviamente o livro possui clichês, assim como muitas outras obras, mas nada exagerado ou que tenha deixado a história previsível ou pouco iriginal. Muito pelo contrário, eu senti que a Juliana conseguiu criar uma trama original a seu modo, inesquecível e que trouxe muitas coisas pouco óbvias.

 Os personagens são muito bem delineados, diversos psicologicamente e super divertidos de serem acompanhados. Não vou mentir, eles não possuem nada que poderia ser chamado de extraordinário, mas conseguem nos marcar e ser irreverentes a seu próprio modo. São pessoas "comuns" e extremamente interessantes, se é que vocês conseguem me entender.

 O romance é muito bem escrito, com cenas mais eróticas, apesar de não ser vulgar ou detalhista demais onde não é necessário. O casal possui química e é difícil não torcer pela felicidade dos dois, apesar de eu ainda achar que é tudo idealizado ao extremo, o que me fez perder um pouco do encanto.

 Obviamente que depois de tantos elogios surge a pergunta inevitável: porque você não deu a nota máxima? É bem verdade que eu adorei o livro, mas eu preciso citar algumas coisinhas que me incomodaram um pouco e que, juntas, me fizeram tirar uma mísera estrela, o que não é motivo para você deixar de ler:

1. A autora começou com alguns errinhos de escrita, não propriamente de português, mas na estrutura do livro em si. São coisas bem mínimas e que passam despercebidas para quem não está realmente atento, por ser seu primeiro livro eu considero isso absolutamente normal e, inclusive, consegui ver a evolução dela ainda nesse volume, de forma que do meio para o fim a trama já estava impecável nesses aspectos.
2.  Sempre me incomoda um pouco ler sobre personagens bonitos demais ou que parecem ser perfeitos. Eu vi um padrão de beleza bem recorrente na obra, pessoas estonteantes fisicamente e de um jeito bem óbvio. A questão não é que eu não queira ler sobre pessoas bonitas, mas eu queria alguns personagens mais diversos fisicamente. Pessoas de cabelo cacheado, pele negra, nariz um pouco grande demais, essas coisas que são comuns, até porque é difícil encontrar uma pessoa perfeita fisicamente. Gosto de ler sobre personagens um pouquinho mais concebíveis fisicamente, com alguns defeitos e imperfeições que os tornam ainda mais únicos e belos. Eu costumo dizer que a perfeição pode residir justamente na imperfeição.
3. Falando em aparência eu preciso falar um pouco sobre Daniel que além de ser perfeito fisicamente é perfeito também em todos os outros aspectos. Eu não conheço uma pessoa assim, nunca conheci um homem assim, mas me apaixonei por alguns, todos imperfeitos. Não somente o Daniel, mas também Alex, são ideais de bondade e beleza. Vamos cair na real, esse tipo de coisa não costuma acontecer e quando me deparo com isso costumo achar, de certa forma, chato. Ninguém é tão benevolente, pouco egoísta e dotado de todas as qualidades que se pode esperar de um homem. São personagens masculinos idealizados demais, sabe? Esse tipo de coisa me incomoda um pouquinho.
4. A personagem passa por uma evolução, não posso citar de maneira mais específica, mas gostaria que a autora tivesse dado mais foco nessa parte, para convencer mais o leitor. Achei que foi rápido demais e esse tipo de coisa costuma precisar de mais foco.

 Essas foram as coisas que me incomodaram, mas garanto que foi muito pouco, uma fez que juntas me fizeram tirar apenas uma estrela da obra. A verdade é que o livro em si é muito bom, mas possui imperfeições como a maioria das obras que leio por aí.

 A edição da Suma está incrível. Essa capa é divina, eu olho para ela e fico babando de tão linda. Ela consegue transmitir de maneira inacreditável a atmosfera do livro e ser impecável em todos os aspectos. Não encontrei erros de revisão e a diagramação está linda demais, super delicada e caprichada. Fiquei apaixonada <3.

 Em suma, Depois do que aconteceu é um romance nacional incrível, envolvente, surpreendente e extremamente delicioso de ser lido. Apesar dos detalhes que precisei ressaltar, confesso que é um grande livro de estreia, já estou ansiosa pela continuação e por mais obras da Juliana. O que mais posso fazer além de recomendar enfaticamente a leitura do livro? Pois eu espero que vocês o façam e se divirtam tanto quanto eu me diverti com esse romance maravilhoso.

QUOTES:

"Dizem que quando a saudade não vai embora é porque resolveu ficar, e não adianta, em hipótese alguma, dizer ao coração o que ele deve fazer. Às vezes ele é cruel e nos leva para um mundo completamente desolador." 

"O vento sopra em meus cabelos, enquanto corro para os seus braços o mais rápido que posso, certa de que, ao encontrá-lo, serei feliz novamente. Até perceber que estou caminhando há horas, dias, um ano, sem nunca chegar aos braços do meu amor." 

"O erro está em tentar tirar da cabeça algo que está no coração." 

"Quero ser uma nova mulher. Talvez uma que não dependesse de ninguém para ser feliz fosse a melhor forma de recomeçar."

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