A realidade devia ser proibida (Maria Clara Drummond)

 Hey, pessoas. Eu não disse que iria continuar falando de livros? Aqui estou eu pra mostrar o último livro que li (meu ritmo de leitura está um pouco reduzido). Ele até apareceu no último post (Uma semana do cão), se trata de A realidade devia ser proibida da Maria Clara Drummond. Vem ver o que eu achei dele ;).

A HISTÓRIA FALA DE...

Os dilemas e as pressões sociais de Eva podem se parecer com os de qualquer garota da elite. Para quem vê de fora, sua vida se dá entre o restaurante chique e a festa com DJ francês regada a MDMA. No entanto, tudo que é óbvio sobre Eva será desconstruído pela autora Maria Clara Drummond. Como o ator consciente da farsa encenada, a jovem colocará em evidência cada parte dessas engrenagens sociais. Um olhar menos compassivo poderia encontrar apenas superficialidade, mas o que se tem é um retrato sincero de uma geração. Narrado em ritmo cinematográfico e com referências a séries como Girls, de Lena Dunham, A realidade devia ser proibida guarda um vislumbre de uma época tão difícil de definir. (+)

MINHA OPINIÃO:

 Muitas coisas chamaram minha atenção nesse livro e me fizeram querer solicitar. Primeiro esse título meio enigmático, meio sensacional que deixou minha mente seriamente interessada em mais informações. Depois essa capa simples, mas com uma combinação de cores interessantes e depois o sobrenome da autora (ué, se é pra ser sincera...).

 Enfim, aí fui dar uma lida na sinopse, achei tudo bem legal, pensei: "vai ser legal ler um livro diferente sobre a elite brasileira, algo mais maduro, sem aquele filtro meio non-sense que a maioria dos livros do tipo tem".

 Então eu mergulhei de cabeça, preciso dizer que estava certa quando pensei que essa obra é mesmo diferente das outras. Primeiro que a narrativa da Maria é completamente crua, direta e sem rodeios. Talvez por isso mesmo o livro seja curtinho. Até mesmo os diálogos são representados de forma completamente descritiva, sem travessão nem nada. Na verdade esse último fato chegou a me incomodar, tinha vezes que eu me pegava lendo a história e de repente reparava que se tratava se um diálogo, minha mente dizia EPA!, voltava e relia. Algumas vezes eu entendia, outras eu me perdia e nesse ritmo fui seguindo com meu meio entendimento. Só pra constar: não gosto de meios entendimentos.

 A história em si não tenta ser muito contextualizada ou com uma ordem cronológica lógica. Outra coisa que me incomodou muito. Muitas vezes não temos uma noção mais ampla da vida dos personagens (até mesmo a protagonista parece meio vaga em certos momentos), a obra não se aprofunda em grandes acontecimentos, apenas parece ser um livro de relatos com fatos amarrados de maneira estranha, meio desconexa. Então eu cheguei ao final do livro e senti aquela coisa de: "é isso?". Como se estivesse faltando algo, como se a obra em si estivesse incompleta, como se o livro também não fizesse muito sentido. Na verdade A realidade devia ser proibida foi uma grande incógnita na minha vida, ainda hoje eu paro e penso sobre o que realmente esse livro significa. Ele possui esse quê de relato, como se abrigasse em suas páginas confissões suficientemente pesadas para serem disfarçadas com a máscara da ficção, senti muita verdade em todos os acontecimentos, apesar de muitos deles me parecerem desconexos e sem uma organização temporal bem definida. Me parece que a autora apenas abriu uma página no Word e começou a escrever acontecimentos aleatórios de sua vida (ou algumas experiências de uma personagem que ela mesmo criou em sua cabeça), mais como um desabafo do que qualquer outra coisa.

 A protagonista se chama Eva, uma menina completamente insegura, com desejos superficiais, uma mente fácil de ser manipulada e amores duvidosos. Não senti empatia pela personagem, às vezes me perguntava o motivo da mesma se rebaixar tanto, além de fazer algumas coisas completamente fora de contexto e aleatórias, mas acho que nem a própria Eva saberia responder essas perguntas. Pra mim se trata de uma alma perdida, que faz as coisas aleatoriamente, se importa com superficialidades e tem uma noção meio distorcida da realidade. O final que a Eva ganhou me deixou extremamente confusa e fez minha mente dar um nó, além de ser muito vago. Mas talvez esse livro tenha sido escrito pra ser assim mesmo, confesso que já tentei entendê-lo em toda sua extensão, mas essa tarefa sempre fica incompleta na minha cabeça.

 Para você que está se perguntando, essa não é uma obra leve, ok? É um relato sem filtro do que anda acontecendo na elite brasileira, então tem bastante coisa pesada o que inclui cenas bem explícitas de sexo, uso de drogas e coisas do tipo. Não é um livro que eu chamaria de "leitura despretensiosa e rápida para uma tarde", até porque, apesar de seu número reduzido de páginas, eu considero uma obra densa e não tão fácil de ser digerida. Sem falar que tudo no livro é bem cru e realista mesmo, mas às vezes a realidade é assim, vaga, distorcida, meio sem sentido, com um misto de sensações estranhas e aquele vazio interior.

 Apesar de haverem inúmeros aspectos que me desagradaram na obra, existe algo de muito interessante, que nos faz refletir, que nos choca, que põe em risco nossos conceitos mais enraizados e aquela coisa toda. Eu não gostaria de fazer parte da elite brasileira, mas algo dentro de mim não deixa de pensar que foi interessante estar por dentro da vida dessas pessoas que me pareceram extremamente sem direção por algumas horas.

 A edição da Companhia das Letras está muito boa, como sempre. Acho essa capa sensacional de um jeito diferente, pouco óbvio e bem simples. Utilizando o jogo de cores para nos atrair. A revisão está impecável, não encontrei erros dessa categoria e a diagramação está simples, mas de alguma forma combina exatamente com a atmosfera do livro.

 Sinceramente, não me arrependo de ter lido a obra ou acho que é uma daquelas leituras extremamente desagradáveis. Muito pelo contrário, dei 3 estrelas porque realmente acredito que a história é interessante, nos faz pensar, nos tira da zona de conforto e apresenta uma perspectiva nova sobre vários assuntos. Pelo menos na literatura brasileira. Achei a escrita da autora meio poética, meio confusa, meio amadora, mas existe algo de interessante nisso também.

QUOTE MEMORÁVEL...
"Os melhores diálogos são os que eu invento, e tudo o que acontece na realidade é só decepção."

INFORMAÇÕES DA OBRA:
Livro: A realidade devia ser proibida
Autora: Maria Clara Drummond
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 105
ISBN: 9788535925760
EXEMPLAR CEDIDO EM PARCERIA COM A COMPANHIA DAS LETRAS

NOTA FINAL:

XOXO, LOVE YOU ALL