Resenha - Gigantes

Livro: Gigantes
Autor: Pedro Henrique Neschling
Páginas: 232
Editora: Paralela
ISBN: 9788584390120

Tudo começa numa festa de formatura de ensino médio. Cinco amigos comemoram juntos o tão aguardado fim da vida escolar. Apesar de bem diferentes entre si, têm algo em comum: enxergam o futuro como um mar de possibilidades a ser descoberto e explorado. Sonham em ser gigantes, tão grandes quanto suas ambições. Mas para nenhum deles o futuro será conforme o previsto. À medida que os anos passam, os jovens deparam com as complexidades trazidas pelo chamado da vida adulta. Desilusões amorosas, questões familiares, conflitos na carreira, dúvidas e mais dúvidas… É inevitável: ao chegar perto dos trinta, todos nos tornamos um pouco mais desencantados e - por que não? - sábios. Mas e os sonhos da juventude, onde vão parar?

 Assim que li a sinopse do livro fiquei curiosa, é comum lermos sobre adolescentes no colégio ou pessoas já adultas, mas e a fase de transição entre esses dois períodos? Quando já não somos mais adolescentes, mas também não nos encaixamos como adultos. Até hoje li pouquíssimos livros com essa temática, então sempre que vejo algo focado nesse assunto fico muito interessada.

 A história em si é muito interessante, ela narra fatos cotidianos da vida de diferentes personagens, tendo como ponto de partida a formatura do ensino médio. São diferente personagens, com histórias de vida mais diferentes ainda. Os capítulos vão intercalando, de modo a dar foco em cada um separadamente. Logo nos familiarizamos com todos eles, a escrita do Pedro é bem direta, sem enrolação ou meias palavras. Gostei disso, por este motivo é que, apesar da obra em si ter bastante história, ela não possui um número exagerado de páginas. 

 Os rumos seguidos são bastante imprevisíveis, me senti muito próxima de todos os personagens e seus dilemas, torci por cada um deles e apreciei muito o fato da diversidade ser uma característica bem marcante. Temos pessoas de diferentes características físicas, diferentes orientações sexuais, diferentes anseios, diferentes crenças e objetivos. Nenhum personagem é igual, tudo é muito diverso, o que sempre me agrada, por isso mesmo se torna impossível para o leitor conhecer a história e não se identificar com pelo menos um dos personagens. 

 Duda é uma moça mais tradicional, de cabelos encaracolados, jeito meigo e sorriso cativante. Foi, de longe, a personagem que mais me identifiquei, me vi nela. Suas características, objetivos e ideais são bem semelhantes aos meus. Fernando é o personagem com mais destaque entre todos. Um rapaz tímido, de beleza comum, que comete alguns deslizes, mas possui coração bom. Camila é uma mulher de personalidade forte, que cansa rápido das coisas e se mostra aberta a todo tipo de experiência. Zidane é um rapaz mulherengo, liberal, ambicioso e aventureiro. Por fim, mas não menos importante, Lipe é um rapaz romântico, homossexual, tentando se encontrar na vida. 

 Por essa descrição básica e bem por cima que fiz dá para perceber mesmo que o que não falta no livro são histórias a serem contadas, nenhuma semelhante entre si e todas bem interessantes. A leitura passa em um piscar de olhos, li o livro em sua grande totalidade em apenas um dia. Basicamente a história é muito fácil de acompanhar e se envolver, então desde as primeiras páginas você já se vê presa ao enredo.

 Outro fato que me agradou muito foi o autor sempre se manter com os pés no chão em relação ao enredo em si, nada irreal, fantasioso ou grandioso demais, sabe? São apenas pessoas comuns, com dilemas comuns e problemas comuns, problemas de pessoas de carne e osso. Adoro quando existe esse toque de realidade em uma história.

 Gostei muito do livro, não nego, mas encontrei duas coisinhas que me incomodaram, detalhes bem pequenos mesmo, mas que não posso deixar de citar. Primeiro achei que a forma que o livro começou não foi a melhor possível, a leitura flui e não existe nada cansativo, verdade, mas creio que não foi a melhor escolha que o autor poderia ter feito, considerando tudo. Outro probleminha foi que encontrei uma pequena falha de enredo, não poderia explicar de uma forma que vocês entendessem sem ter lido o livro, mas foi só uma pequena falha que chamou minha atenção, em questão de história mesmo.

 Gosto do fato do autor ser sucinto e escrever sobre a vida, acima de tudo. Sem enrolação, sem coisas fantasiosas, sem idealização. Vários assuntos contemporâneos que não são muito abordados possuem vez aqui, como a incerteza em relação ao destino, principalmente depois que nos vemos um tanto quanto perdido e inseguros após o término do ensino médio, parece que finalmente nossa vida precisa ir para algum lugar. Então, esse tom de normalidade, como se estivéssemos lendo sobre a história de um vizinho, amigo ou até mesmo a nossa, causa uma grande empatia no leitor.

 A edição da Paralela está linda, acho essa capa incrível sem ser óbvia. Traduz de maneira excepcional e simples a atmosfera do livro que, não se enganem, possui conteúdo de toda natureza, apesar de não ser exatamente explícito e nem pesado. A diagramação é simples e bonita, sem falar que não encontrei erros de revisão. Resumindo: a edição está simples, linda e impecável.

 Em suma, Gigantes é um livro de leitura fácil e envolvente. Gostei de cada segundo, fui fisgada desde as primeiras páginas e fiquei encantada com a história, o fato dela ser tão simples, tão cotidiana e, ao mesmo tempo, tão interessante. Está mais do que na cara que recomendo a leitura com todas as minhas forças, errado seria você se não lesse. Errado e, além de tudo, uma pessoa que não sabe aproveitar oportunidades.

QUOTES:

"Gostava demais de tudo, talvez esse fosse seu problema, pensava. Desde criança, quando tinha que tomar qualquer decisão, sofria pela renúncia das opções descartadas que as escolhas obrigatoriamente significam." - pág. 28

"Sabe, filha, o amor é tão simples que não conseguimos entender direito como acontece. Nasce quando menos esperamos. Depois acaba, ou se transforma, sem que a gente tampouco perceba. E nós ficamos tentando compreender, decifrar. Pura besteira (...). É tudo ilusão." - pág. 157

"O apocalipse zumbi era virtual. Sem perceber, viraram perfis sem alma, vagando a esmo rumo a um futuro de autofagia, intolerância e solidão entre curtidas e retuítes." - pág. 214

"Então posso estar louco, mas acordei pensando que a gente morre quando envelhece sem tentar reproduzir em si a delícia de crescer mantendo a pureza que temos quando a gente nasce. E que nos fará viver para sempre. Para sempre." - pág. 229

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