Resenha - Homens sem mulheres

 Olá, pessoas. Hoje vim falar de um livro de contos, o que quase não costumo ler, mas o que me interessou nele (além do título) foi o autor. Estava louca para ler qualquer coisa do Haruki Murakami há tempos e, quando surgiu a oportunidade, não deixei passar. Clique em LEIA MAIS para saber o que achei da obra.

SINOPSE: Murakami é um autor capaz de criar universos próprios, que se desdobram em romances de fôlego e personagens cativantes. Mas ele é também um excelente contista, e sua produção mais recente está reunida neste volume: sete histórias que tratam de relações amorosas e trazem o estilo único do autor. São contos sobre o isolamento e a solidão que permeiam as relações amorosas: homens que perderam uma mulher depois de um relacionamento marcado por mal-entendidos. No entanto, as verdadeiras protagonistas destas histórias — cheias de referências à música, a Kafka, às Mil e uma noites e, no caso do título, a Hemingway — são as mulheres, que misteriosamente invadem a vida dos homens e desaparecem, deixando uma marca inesquecível na vida daqueles que amam.

 Estava, de certa forma, com expectativas para ler esse livro, além do fato do autor sempre ter me despertado enorme curiosidade, gosto de ler livros originados de diferentes localidades, já que não se encontra com tanta frequência um lançamento de um autor japonês, nigeriano ou originado de qualquer lugar que não seja Estados Unidos, além, é claro, dos livros nacionais. Então mergulhei de cabeça nessa leitura e fiquei feliz ao constatar que o resultado foi super positivo.

 Obviamente estava também com certo receio, afinal, estaria saindo de minha zona de conforto literária, onde costumo permanecer na maior parte do tempo. No fim das contas pude perceber, novamente, que a maioria dos meus receios eram infundados e me peguei com vontade de sair da zona de conforto mais vezes. É sempre bom.

"Perder uma mulher é isso. Em alguns casos, perder uma mulher é como perder todas as mulheres. Assim nos tornamos homens sem mulheres." - pág. 237

 Homens sem mulheres é um livro de contos, o que sempre me deixa com receio, até porque quase sempre não conseguimos gostar de todas as histórias com a mesma intensidade, costumo considerar sempre uma obra de altos e baixos. Mas até que esse manteve um nível bem elevado e linear, talvez por todos os contos serem escritos pelo mesmo autor, talvez por esse mesmo autor ser muito bom no que faz. De qualquer forma, já é o primeiro ponto positivo que cito.

 Existe algo de muito íntimo no livro em si, são contos, mas senti quase como se fossem relatos bem pessoais, me senti até, por vezes, como quem invade a privacidade de alguém e começa a tomar conhecimento de segredos muito íntimos. O que não é algo ruim, só diferente, mas de um jeito muito interessante. Existe algo de muito profundo nas histórias, nas formas que elas são contadas e isso nos aproxima muito do enredo em si.

 Eu juro que esperava de tudo desse livro, mas jamais o que encontrei de fato. Achei todas as histórias extremamente peculiares, volto a repetir que de uma maneira positiva. É tudo muito único e original, não me senti como se já tivesse visto isso em algum lugar antes, sensação que costumo sentir nas leituras em geral, exceto no conto "Samsa apaixonado" que possui claras influências de Kafka.

 As histórias são, em sua maioria, o que poderiam ser consideradas cotidianas, mas rodeadas por uma atmosfera quase mágica, onde o incomum se torna protagonista e a criatividade do leitor é instigada a todo momento.

 Os personagens nos são apresentados sob um ponto de vista bem interessante, dá para perceber claramente que são pessoas comuns, mas a forma que o autor as descreve faz com que pareçam absolutamente instigantes e interessantes de várias maneiras. O que me encantou, as mulheres, por exemplo, possuem forma bem realista no livro, sabe? Gordurinhas, imperfeições, coisas provocadas pela casualidade... Enfim, ver essa explosão de realidade, não só nas mulheres, me encantou.

 O fato do autor ser japonês e escrever sobre coisas e personagens relacionados a sua própria cultura me fascinou absurdamente. Como já disse, gosto de ler livros originados de diversas localidades, então sempre fico encantada ao reparar nas diferenças e semelhanças relacionadas a nossa própria cultura que encontro ao longo da leitura. Nesse sentido é uma experiência interessantíssima.

 A sexualidade é algo que está presente em toda a obra, seja de maneira explícita ou sutil. Não é algo escandaloso ou que pareça vulgar, de maneira alguma. A traição, por exemplo, é um tema muito recorrente nos contos. O fato de todas as histórias possuírem narradores homens nos dá uma nova perspectiva para vários temas, mas principalmente para essa coisa da sexualidade.

 Alguns dos contos são mesmo muito misteriosos, algumas vezes o autor opta por não dar grandes explicações, ou ser muito subjetivo, ou finalizar com as coisas em aberto. Mas não senti que isso foi um defeito, prefiro citar pois sei que muitas pessoas não gostam, eu, ao contrário, achei que foi mais uma forma de incitar nossa imaginação e percepção. Às vezes ser muito claro em certos aspectos é chato, tira a magia da interpretação. Senti isso ao ler o livro, trechos que poderiam insinuar duas coisas completamente diferentes, como se tivéssemos que pensar um pouco mais para entender. Gosto disso.

 A escrita do autor, inclusive, é pouco óbvia e bastante interessante, às vezes ele devaneia de maneira especialmente interessante e sutil sobre aspectos da vida, marquei tantos quotes ao longo da leitura que se colocasse todos na resenha o post ficaria imenso.

 A edição da Alfaguara está ótima, acho essa capa interessante e linda de um jeito pouco óbvio, inclusive achei a escolha de cores ousada, considerando tudo, o fato é que a capa em si transmite absolutamente bem a obra em si. A diagramação está  impecável e elegante. Em relação a revisão e tradução eu achei apenas um erro, então não acho que tenho do quê reclamar.

 Em suma a leitura do livro está mais do que indicada, quanto a isso não existem dúvidas. Foi uma experiência diferente e gratificante que pretendo repetir muito em breve, obviamente gostaria que vocês sentissem o mesmo. Basicamente essa é uma obra incomum de contos extremamente sensíveis, sutis e interessantes. Eu deveria ser subjetiva, assim como o autor, ao recomendar a leitura, mas, como não quero que a mensagem seja interpretada de maneira equivocada, direi de maneira clara e direta: essa é uma obra que merece ser lida, leia!

QUOTES:

"Quando o coração dela se move, o meu é puxado junto. Como dois botes presos numa corda. Mesmo querendo cortá-la, não encontro em lugar nenhum uma faca que possa fazer isso." - pág. 121 

"Não consigo explicar direito, mas chegou uma hora em que, subitamente, muitas coisas perderam a importância pra mim." - pág. 43 

"Quase sempre estava confinado profundamente dentro de mim mesmo." pág. 83 

"Eu a perdia aos poucos desde quando ela era viva, e no final a perdi por completo." pág. 36

Sobre a obra:

Livro: Homens sem mulheres

Autor: Haruki Murakami

Páginas: 240

Editora: Alfaguara

ISBN: 9788579624384

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