Resenha - O Vilarejo

 Olá, pessoal. Aqui estou eu para fazer outra resenha diferente, para um livro que não se enquadra nos gêneros que eu costumo ler. Acho que ando saindo cada vez mais de minha zona de conforto (palmas por isso!). Enfim, cliquem em LEIA MAIS para saber minhas impressões sobre o livro.

SINOPSE: Em 1589, o padre e demonologista Peter Binsfeld fez a ligação de cada um dos pecados capitais a um demônio, supostamente responsável por invocar o mal nas pessoas. É a partir daí que Raphael Montes cria sete histórias situadas em um vilarejo isolado, apresentando a lenta degradação dos moradores do lugar, e pouco a pouco o próprio vilarejo vai sendo dizimado, maculado pela neve e pela fome. As histórias podem ser lidas em qualquer ordem, sem prejuízo de sua compreensão, mas se relacionam de maneira complexa, de modo que ao término da leitura as narrativas convergem para uma única e surpreendente conclusão.

 Quando eu solicitei O Vilarejo estava encarando um grande risco por dois motivos:

1. Eu sou extremamente medrosa
2. Eu não costumo ler esse tipo de livro, muito menos gostar

 Mas eu realmente estava curiosa pela escrita do Raphael, especialmente por ele receber tantos elogios. Além do mais, eu resolvi arriscar um pouco pra variar. E acabei ficando feliz por ter tomado essa decisão.

 O livro é muito bom, confesso que fiquei com um pouco de medo, mas nada que tirasse meu sono de noite (acreditem, a história do Renato fez isso, mas esse não). Basicamente eu não sou muito de ler livros de contos, porque na maioria das vezes a gente não gosta de todos, isso é muito raro. Mas acho que o fato desse ter sido escrito apenas por uma pessoa e por todas as histórias se interligarem, eu realmente gostei de todos. Além do mais, não vamos tirar o crédito do autor, isso se deve em grande parte pelo fato dele ser talentoso.

 A premissa é interessante, gosto dessa coisa de sete pecados capitais e ver histórias que relacionassem isso, ainda mais de forma tão peculiar e criativa, acabou sendo um fator que me ajudou fazer uma crítica positiva ao livro. Foi também o que me atraiu inicialmente, além do fato das histórias serem interligadas, já que amo essa coisa de vidas que se cruzam (aprendi a gostar com minha mãe). 

Minha edição veio autografada <3

 Os contos são bem diretos, talvez por isso sejam curtinhos, eles não têm muita descrição e cenas desnecessárias, o autor vai direto ao ponto e nos ganha com uma escrita enxuta e objetiva. A forma que ele desenvolve a história nos lembra mesmo aqueles contos macabros bem antigos, que, aliás, sempre me agradaram. 

 Nós temos várias reviravoltas nas histórias, apesar delas serem curtinhas. Nós vamos descobrindo os segredos e lados mais obscuros das mentes dos personagens retratados. Eu realmente me surpreendi com vários acontecimentos e, mesmo as histórias sendo pequenas, nós temos várias reviravoltas. Isso é algo que sempre me agrada e que ando sentindo pouco ultimamente: surpresa.

 O mais interessante de tudo é a forma que o autor optou por desenvolver a história. Ele não coloca um demônio vindo do além que aterroriza a vila, não, na verdade os demônios estão dentro de cada pessoa. Ninguém é 100% bom ou ruim, claro que existem circunstâncias atenuantes, mas de um modo geral os personagens sucumbem ao mal. Por isso mesmo que a cena final me surpreendeu e arrancou um sorriso de satisfação. Adoro quando os autores exploram as várias facetas da mente humana e o Raphael escolheu mostrar o lado sombrio, isso tudo sem expor que todos temos também o lado bom. Ou seja, é aquela coisa do yin yang (que eu amo e não poderia deixar de citar). A questão da dualidade. Por isso que tiro meu chapéu para o autor novamente, em um livro tão curto ele conseguiu fazer algo tão bem pensado e tão complexo. Caramba, virei admiradora do cara (isso lendo apenas um livro dele e, mesmo assim, um tipo de obra que nem costuma me agradar. Tiro o chapéu duas vezes).

 A edição da Suma está incrível. I-N-C-R-Í-V-E-L com letras maiúsculas, negrito e ênfase nas letras. Wow, eles capricharam demais na parte gráfica, tentei mostrar um pouco disso nas fotos, mas para você realmente ver a magnitude de tudo é necessário ter o livro em mãos. Temos ilustrações belíssimas e muito bem feitas, páginas com manchas de sangue, páginas escuras... Nossa, está lindo demais, é perceptível o carinha da editora e isso me deixa ainda mais feliz, a obra merece mesmo todo esse cuidado. A revisão está perfeita, não encontrei erros e nem tenho ressalvas quanto a isso. Aqui tiro meu chapéu outra vez (pela terceira vez) para o trabalho louvável da Suma.

 Em suma, esse livro é uma obra de contos que recomendo muito. Ele é curto, mas possui um bom desenvolvimento, personagens complexos, um autor que escreve de forma direta e um final genial que nos dá uma lição sobre o ser humano e suas inclinações. Basicamente, é uma obra sem defeitos (pelo menos é o que eu penso) que você deveria ler, não perca mais tempo. 

P.S.: O halloween está chegando, é uma ótima dica de leitura.

P.S.²: Eu ando lendo e resenhando muitos livros nacionais ultimamente, não sei se vocês estão percebendo. A verdade é que ando encontrando obras de muita qualidade e melhores oportunidades para escritores daqui, claro que o mercado ainda não está perfeito, porém melhorou e fico feliz em constatar essas pequenas grandes coisas.

Livro: O Vilarejo

Autor: Raphael Montes

Páginas: 96

Editora: Suma de Letras

ISBN: 9788581053042

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